quarta-feira, 24 de abril de 2024

Capítulo 1 - Cenários e contextos

 Por Jânsen Leiros Jr.

 

Para compreendermos plenamente a riqueza e a profundidade dos Evangelhos, é fundamental nos determos um pouco no contexto histórico, político e cultural em que foram concebidos. Nos meandros da Palestina do primeiro século, um cenário intrincado se desdobra, carregado de significados religiosos e sociais que ecoam nas páginas dos Evangelhos. Nessa jornada de compreensão, somos convidados a explorar as diversas influências judaicas e helenísticas que moldaram as narrativas desses textos, bem como a pressão exercida pela presença do dominador romano nesse mesmo contexto.

Ao olharmos para a Palestina da época de Jesus, encontramos uma terra mergulhada em efervescência religiosa e tensões políticas. A presença do judaísmo, tanto em suas formas ortodoxas quanto em seus diversos movimentos e seitas, delineava o horizonte espiritual do povo. Por outro lado, a influência helenística, proveniente da cultura grega que permeava o mundo mediterrâneo, também deixava sua marca, especialmente nas cidades cosmopolitas como Jerusalém.

Referências históricas, como os escritos de Flávio Josefo e as descobertas arqueológicas, nos fornecem um panorama vibrante desse contexto. A vida cotidiana na Palestina do primeiro século, seus costumes, suas práticas religiosas e suas relações sociais, ganham vida através de obras como "Jesus e Seu Tempo: A Palestina na Época de Jesus", de Richard A. Horsley, e "A Vida Diária nos Tempos de Jesus", de Henri Daniel-Rops, entre outros[1].

                          I.   Cenário geopolítico

A Palestina nos tempos de Jesus era uma região marcada por uma complexa teia de influências políticas. Sob o domínio do Império Romano[2], a região estava dividida em várias províncias, cada uma com suas próprias dinâmicas e desafios.

Província da Judeia

Esta província era o centro religioso e político da região, com Jerusalém como sua capital. A Judeia era de grande importância para os judeus, pois abrigava o Templo de Jerusalém, o principal local de culto e peregrinação. Politicamente, a Judeia era frequentemente palco de tumultos e revoltas devido à forte resistência judaica ao domínio romano.

Província da Galileia

Localizada ao norte da Judeia, a Galileia era uma região agrícola próspera, com uma população diversificada de judeus e gentios. Embora não fosse tão central quanto a Judeia, a Galileia tinha sua própria importância política e econômica. Foi lá que Jesus passou a maior parte de sua vida e ministério, e muitos de seus discípulos eram originários dessa região.

Província da Samaria

Situada entre a Judeia e a Galileia, a Samaria era habitada principalmente por samaritanos, um grupo étnico e religioso distinto dos judeus. Devido a diferenças religiosas e étnicas, havia tensões entre judeus e samaritanos. Politicamente, a Samaria era estrategicamente importante como uma área de passagem entre o sul e o norte da Palestina.

Província da Pereia

Localizada a leste do Jordão, essa região fazia fronteira entre a Palestina e o território nabateu. Embora menos mencionada nos relatos do Novo Testamento, a Pereia tinha sua própria importância política e econômica, com cidades como Jericó e Pela.

Além dessas províncias principais, havia outras regiões menores e cidades importantes na Palestina, cada uma contribuindo de alguma forma para o cenário político da época. O controle romano sobre essas províncias e regiões era mantido por meio de governadores e autoridades locais, o que muitas vezes levava a conflitos e instabilidade política.

Domínio Romano

O domínio romano sobre a Palestina foi estabelecido após a conquista de Pompeu[3] em 63 a.C., tornando-a uma província imperial sob o controle direto de Roma. Os romanos nomearam procuradores ou prefeitos para administrar a região, incluindo a Judeia, onde Jerusalém estava localizada. Esses governadores romanos tinham autoridade sobre assuntos administrativos e militares, embora estivessem subordinados ao governador da Síria em questões de maior importância.

Herodes, a Dinastia e o Império

Durante grande parte do período do Novo Testamento, a Palestina era governada pela dinastia herodiana, liderada por Herodes, o Grande, e seus descendentes. Herodes foi nomeado rei da Judeia pelos romanos em 37 a.C.[4] e governou com mão de ferro até sua morte em 4 a.C. Apesar de suas habilidades políticas e das impressionantes obras que construiu, como o Templo de Jerusalém, ele também era conhecido por sua crueldade e paranoia.

Após a morte de Herodes, seus filhos dividiram o reino entre si[5], criando uma série de tetrarquias que governavam diferentes partes da Palestina. Isso resultou em uma complexa teia de lealdades e rivalidades que contribuíram para a instabilidade política na região.

Durante todo o período herodiano, tal governo coexistia com o poder do Império Romano, embora o controle final permanecesse nas mãos dos romanos. Essa convivência aparentemente harmônica seguia uma dinâmica delicada, na qual Herodes e seus descendentes mantinham uma relação de conveniente subserviência a Roma, buscando manter a ordem e a legalidade na Judeia.

Herodes, embora fosse um monarca local, devia sua posição e autoridade ao Império Romano, que mantinha o poder de destituí-lo do cargo se desafiasse sua autoridade. Seu poder, portanto, era limitado e sujeito à supervisão e controle de Roma, especialmente em questões militares.

Além disso, Herodes e seus descendentes tinham o dever de manter relações diplomáticas com Roma, e somente através dela. Tinha que enviar tributos e relatórios regulares, garantir a estabilidade e a ordem em sua província e reprimir rebeliões para assegurar a lealdade de seus súditos. Tudo isso ajudava na manutenção de sua posição de rei da Judeia.

Para manter seu poder e legitimidade entre seu próprio povo e mantê-los sob controle, Herodes investiu em construções impressionantes, como o Templo de Jerusalém. Sua política de tolerância religiosa também ajudou a garantir a estabilidade interna, permitindo-lhe o apoio de várias comunidades religiosas em sua província, incluindo judeus, samaritanos e gregos, e evitando conflitos que pudessem chamar a atenção de Roma.

                        II.   Cenário sociocultural e religioso

Não bastasse o domínio romano para complicar a vida na região, a Palestina estava dividida por questões étnicas, religiosas e sociais, com tensões frequentes entre judeus e samaritanos[6], bem como entre judeus e outros grupos étnicos como gregos e os próprios dominadores romanos. Nesse contexto, a hierarquia social era rígida, com uma elite governante composta por nobres e sacerdotes, enquanto a maioria da população vivia em condições de pobreza e opressão. Este período foi marcado por uma rica diversidade cultural, que incluía elementos judaicos, helenísticos e romanos, todos eles influenciando profundamente a vida e as crenças das pessoas na região.

O contexto sociocultural da Palestina daqueles tempos, portanto, era impressionantemente complexo. Diante da dominação romana, os judeus enfrentavam uma variedade de perspectivas sobre como lidar com essa realidade. Enquanto alguns, como os fariseus[7], buscavam preservar a identidade religiosa e cultural judaica, enfatizando a observância da Lei e a separação dos gentios, outros, como os saduceus[8], colaboravam com o governo romano em troca de poder e privilégios. Além disso, havia grupos dissidentes, como os zelotes[9], que pregavam a resistência armada contra os romanos em busca da libertação política da Palestina, criando assim um clima de tensão e instabilidade na região. Entre os grupos de maior relevância havia ainda os chamados essênios[10], que...

Religiosamente, o judaísmo exercia uma influência significativa sobre a vida cotidiana das pessoas. Baseado na Torá[11], ou Lei de Moisés, os judeus seguiam uma série de práticas religiosas, como a observância do sábado e as festas religiosas, com o Templo de Jerusalém sendo o epicentro da vida religiosa. A diversidade de grupos religiosos dentro do próprio judaísmo, como os que vimos acima, promovia razoável tensão no convívio de diferentes interpretações da Lei e suas práticas e aplicações.

As expectativas messiânicas entre os judeus eram crescentes, com muitos aguardando um Messias[12] que libertaria Israel do domínio romano e estabeleceria o reino de Deus na terra. Essas expectativas escatológicas influenciaram a recepção de Jesus como Messias e suas interpretações de sua missão e ensinamentos. Todo esse contexto religioso, cultural e político é essencial para compreendermos plenamente o ambiente em que Jesus viveu e ministrou, pois fornece valiosa contribuição sobre as dinâmicas sociais e religiosas da Palestina nos tempos do Novo Testamento.

Avaliando os complexos cenários que apresentamos, podemos compreender como eram inevitáveis as tensões daquela época. Tal realidade moldou profundamente as interações e reações à mensagem e pregação do Senhor. Em um contexto onde a insatisfação com a dominação romana se misturava com as diversas facções religiosas judaicas e as influências culturais helenísticas, os ânimos estavam vulneráveis a qualquer movimento que desafiasse o status quo estabelecido pelo poder local e romano. Assim, a figura de Jesus surge não apenas como a de um pregador carismático, mas também como alguém que incitou debates, provocou conflitos e promoveu reações que ameaçaram a Pax Romana[13] e a conveniente posição social das elites judaicas da época. Isso explica em parte a imensa mobilização que se empreendeu contra ele. Não obstante, esse mesmo cenário contribuiu para que sua pregação se perpetuasse pela história até os nossos dias.



[1] Além das obras já mencionadas, existem várias outras que podem enriquecer a pesquisa sobre o contexto histórico, cultural e religioso da Palestina nos tempos do Novo Testamento.

1.       "O Judaísmo nos Tempos de Jesus: História Política e Social dos Judeus", de Hyam Maccoby - Oferece uma visão abrangente do judaísmo na época de Jesus, incluindo aspectos políticos, sociais e religiosos.

2.       "Vida e Época de Jesus, o Messias", de Alfred Edersheim - Um estudo detalhado sobre a vida e o tempo de Jesus, explorando o contexto histórico, cultural e religioso em que ele viveu.

3.       "O Mundo do Novo Testamento: Compreendendo o Contexto do Texto Bíblico", de Joel B. Green e Lee Martin McDonald - Apresenta uma visão geral do mundo do Novo Testamento, incluindo questões históricas, culturais, sociais e religiosas.

4.       "O Judaísmo da Época de Jesus: Uma Introdução Histórica", de Emil Schürer - Uma obra clássica que examina o judaísmo durante o período do Segundo Templo, fornecendo insights valiosos sobre o contexto religioso e cultural da Palestina.

5.       "O Contexto Social do Novo Testamento: Uma Introdução aos Textos e Culturas Judaica e Greco-Romana", de Richard E. DeMaris - Oferece uma análise abrangente do contexto social do Novo Testamento, incluindo informações sobre a Palestina e suas influências culturais.

6.       "Judeus e Cristãos na Palestina do Século I: Um Estudo de Interação Social", de Anthony J. Saldarini - Explora as relações entre judeus e cristãos na Palestina do primeiro século, destacando os contextos sociais e culturais em que essas interações ocorreram.

7.       "Jesus e a História", de Martin Hengel - Oferece uma perspectiva histórica sobre a vida de Jesus e seu contexto, examinando as fontes históricas e os eventos políticos e sociais da época.

 

[2] O Império Romano foi uma das maiores e mais influentes civilizações da história, centrada na cidade de Roma, na península Itálica. Surgiu após a expansão do Reino de Roma, transformando-se de uma república em um império no século I a.C., sob o governo de Júlio César e, posteriormente, Augusto.

O império durou aproximadamente 500 anos, desde o estabelecimento do Principado por Augusto em 27 a.C. até a queda de Roma em 476 d.C., marcando o fim do período conhecido como Antiguidade Clássica.

Durante seu auge, o Império Romano se estendeu por vastas áreas da Europa, Norte da África e Ásia Ocidental, abrangendo cerca de 50 a 70 milhões de pessoas. Incluía territórios que hoje correspondem a vários países, como Itália, Espanha, França, Grécia, Egito, Turquia, entre outros.

O legado deixado pelo Império Romano é vasto e influenciou profundamente a civilização ocidental. Contribuições notáveis incluem a lei romana, que serviu de base para os sistemas jurídicos modernos; a arquitetura, com obras como aquedutos, estradas, pontes e o Coliseu; o latim, que deu origem às línguas românicas, como o português, espanhol, francês, italiano e romeno; e avanços significativos em engenharia, filosofia, literatura e arte. Além disso, o legado cultural e político de Roma continuou a influenciar governos, instituições e sociedades ao longo da história.

 

[3] Pompeu foi um general e político romano que desempenhou um papel significativo na história do Império Romano. Em 63 a.C., ele conquistou a Palestina, tornando-a uma província romana após uma campanha militar bem-sucedida. A conquista de Pompeu marcou o início do domínio romano sobre a região. Além da Palestina, Pompeu anexou várias outras regiões ao Império Romano durante suas campanhas militares. Alguns dos territórios mais significativos conquistados por Pompeu incluem a Síria, a Judeia, a Transjordânia, a Fenícia e a região da Cilícia. Essas conquistas ampliaram consideravelmente a extensão do Império Romano no Oriente Médio e no Mediterrâneo Oriental.

[4] A motivação para nomear Herodes como rei foi principalmente política e estratégica. Após a morte de Antígono, o último rei hasmoneu da Judeia, Herodes aproveitou a oportunidade para conquistar o poder na região. Ele se aliou ao general romano Marco Antônio, que estava envolvido em uma disputa pelo controle do Império Romano após a morte de Júlio César, e foi posteriormente confirmado como rei. Os romanos viam em Herodes um aliado confiável que poderia manter a ordem na região e garantir a lealdade dos judeus. Além disso, Herodes demonstrou sua capacidade de governar eficazmente durante seu reinado, especialmente em termos de administração e construção de projetos monumentais, como o Templo de Jerusalém.

Herodes não tinha qualquer ascendência genealógica puramente judaica, que justificasse sua pretensão ao reinado da Judeia. Ele era descendente de uma família idumeia, que havia se convertido ao judaísmo algumas gerações antes. No entanto, Herodes buscou legitimar seu governo através de alianças políticas com os romanos e da promoção de sua própria imagem como protetor e defensor dos interesses judaicos. Embora sua legitimidade fosse contestada por alguns grupos judaicos, Herodes conseguiu manter-se no poder com o apoio romano e suas próprias habilidades políticas.

[5] Após a morte de Herodes, o Grande, em 4 a.C., seu reino da Judeia foi dividido em quatro tetrarquias, cada uma governada por um de seus filhos. As tetrarquias eram:

1.       Galileia, governada por Herodes Antipas.

2.       Itureia e Traconites, governada por Filipe, o filho de Herodes, o Grande, com Cleópatra de Jerusalém.

3.       Judeia e Samaria, governada por Arquelau, outro filho de Herodes, o Grande.

[6] A tensão étnica entre judeus e samaritanos remonta a disputas históricas e religiosas. Os samaritanos eram considerados uma população mista, descendentes de judeus remanescentes e povos estrangeiros trazidos para a região após o exílio babilônico. Eles mantinham suas próprias tradições religiosas e um templo em Monte Gerizim, desafiando a centralidade do Templo de Jerusalém para os judeus. Além disso, havia diferenças culturais e políticas, exacerbadas pela rejeição dos judeus em aceitar a identidade samaritana como parte integrante do povo eleito. Essas tensões resultaram em hostilidades mútuas e segregação social entre as duas comunidades.

[7] Os fariseus eram um grupo judaico devoto que enfatizava a observância estrita da Lei e das tradições religiosas, buscando a pureza ritual e a separação dos gentios. Acreditavam na ressurreição dos mortos e na existência de anjos e espíritos. Esperavam um Messias que restaurasse a pureza religiosa e a observância da Lei.

[8] Os saduceus eram uma facção aristocrática e sacerdotal do judaísmo que rejeitava a crença na ressurreição, nos anjos e nos espíritos. Tinham uma relação pragmática com o governo romano e concentravam-se no Templo e no culto sacrificial. Não tinham expectativas messiânicas claras, focando mais nos assuntos políticos e religiosos do presente.

[9] Os zelotes eram um grupo radical que advogava a resistência armada contra o domínio romano, buscando a libertação política de Israel. Acreditavam em um Messias guerreiro que lideraria a revolta contra os ocupantes estrangeiros e estabeleceria o reino de Deus na terra.

[10] Os essênios eram uma comunidade judaica ascética e separatista, que vivia uma vida comunitária rigorosa e se afastava das instituições religiosas do templo em Jerusalém. Tinham uma visão apocalíptica do mundo, aguardando um Messias e um juízo final que purificaria a terra do mal e inauguraria uma era de justiça divina.

[11] A Torá é a lei escrita do judaísmo, composta pelos cinco primeiros livros da Bíblia hebraica: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Nos tempos de Jesus, a Torá desempenhava um papel central na vida religiosa e cultural do povo judeu, servindo como um guia moral e legal para sua conduta individual e comunitária. Era estudada, interpretada e aplicada pelos líderes religiosos e pelos judeus devotos em suas práticas diárias, incluindo observâncias rituais, festivais religiosos e sacrifícios no Templo de Jerusalém. Atualmente, a Torá continua sendo uma autoridade religiosa fundamental para os judeus, que a consideram como a palavra revelada de Deus e a base de sua identidade religiosa e étnica. É lida regularmente nas sinagogas, estudada em profundidade nas escolas judaicas e guiadora da vida moral e espiritual dos praticantes do judaísmo.

[12] A Torá, em um sentido mais amplo, refere-se aos cinco primeiros livros da Bíblia hebraica: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. No entanto, em um sentido mais amplo, a Torá pode incluir também os escritos proféticos, conhecidos como Nevi'im, e os escritos sapienciais e poéticos, conhecidos como Ketuvim. Juntos, esses três componentes formam o Tanakh, a Bíblia hebraica.

[13] A Pax Romana, ou "Paz Romana", foi um período de relativa paz e estabilidade que se estendeu aproximadamente do final do século I a.C. até o século II d.C. Durante esse tempo, o Império Romano conseguiu controlar vastas áreas de território, promovendo um ambiente de segurança que facilitou o comércio, a comunicação e o desenvolvimento cultural. Essa paz foi mantida através do controle militar romano e do estabelecimento de leis e infraestrutura que promoviam a ordem e a coesão dentro do império.

sexta-feira, 12 de abril de 2024

Explorando a harmonia dos Evangelhos

 

Por Jânsen Leiros Jr.

Nos últimos vinte séculos, os Evangelhos têm ecoado através do tempo, trazendo consigo a mensagem imortal de amor, redenção e esperança encontrada em Jesus Cristo. Como uma sinfonia celestial, esses quatro relatos — Mateus, Marcos, Lucas e João — entrelaçam-se em harmonia para formar uma narrativa única, cujas notas ressoam em cada página, em cada palavra, em cada verso.

Reafirmando o que anteriormente já dissemos, assim como uma orquestra afinada, os evangelistas contribuem com suas vozes individuais, cada um trazendo uma perspectiva única e valiosa para enriquecer o todo. Como regidos pela mão divina do Mestre, eles cooperam em perfeita sincronia, cada um adicionando sua melodia à grandiosa composição que é a história da vida e dos ensinamentos de Jesus Cristo.

Neste estudo que se pretende inspirador, embarcaremos em uma jornada fascinante para desvendar os mistérios da harmonia dos Evangelhos. Nosso objetivo é mergulhar profundamente nas páginas sagradas e descobrir como as narrativas distintas se unem para formar uma mensagem única e transformadora sobre o Filho de Deus.

A Notável Harmonia dos Evangelhos

A primeira nota de destaque dessa sinfonia é a notável harmonia presente nos Evangelhos, apesar das diferenças evidentes entre eles em estilo, ênfase e conteúdo. Esses relatos se complementam e se entrelaçam de maneira surpreendente. Enquanto Mateus enfatiza a realeza de Jesus como o Messias prometido, Marcos retrata sua autoridade e poder divinos. Lucas, por sua vez, apresenta o Salvador como o Filho do Homem, compassivo e misericordioso, enquanto João nos conduz às profundezas de sua divindade e amor redentor. É como se cada evangelista, ao escrever sob a inspiração do Espírito Santo, adicionasse sua própria melodia à grandiosa composição dos Evangelhos.

         E já que iniciamos apontando as individualidades intrínsecas de cada um dos evangelhos, é importante conhecermos os destaques históricos que os tornam únicos e completos em si mesmos, como autoria, datas prováveis de composição e de onde foram escritos, as perspectivas próprias que cada um apresenta sobre a vida e o ministério de Jesus e, por fim, a ênfase teológica exercida por cada evangelista, flagrantemente percebidas em seus diferentes estilos narrativos.

Vamos a eles, não sem antes ressaltar que, como não é nossa pretensão aqui, não nos aprofundaremos em questões como datação, autoria e local de registro, utilizando as informações geralmente aceitas pela maioria dos comentaristas bíblicos. Afinal, para a observação da harmonia entre os quatro evangelhos, tais informações, ainda que relevantes em estudos histórico-críticos, não interferirão em nossa compreensão.

Apresentação rápida dos quatro Evangelhos

  1. Evangelho de Mateus:
    • Autoria: Tradicionalmente atribuído a Mateus, um dos doze apóstolos de Jesus.
    • Data: Provavelmente escrito entre 60 e 70 d.C.
    • Local: Possivelmente escrito na Síria ou Antioquia.
    • Propósito: Mateus escreveu seu Evangelho principalmente para uma audiência judaica, buscando demonstrar que Jesus era o cumprimento das profecias messiânicas do Antigo Testamento.
    • Temáticas Teológicas: Destaque para a ênfase na genealogia de Jesus, a autoridade e soberania do Messias, o Reino de Deus, a ética do Reino e a missão da igreja.
  2. Evangelho de Marcos:
    • Autoria: Tradicionalmente atribuído a Marcos, discípulo de Pedro e intérprete de Paulo.
    • Data: Provavelmente escrito entre 50 e 70 d.C.
    • Local: Possivelmente escrito em Roma.
    • Propósito: Marcos escreveu seu Evangelho de forma concisa e dinâmica, enfatizando a natureza servil de Jesus e sua missão de sofrimento e redenção.
    • Temáticas Teológicas: Destaque para a autoridade e poder de Jesus sobre as forças espirituais, sua compaixão pelos marginalizados e sua morte sacrificial como o Servo Sofredor.
  3. Evangelho de Lucas:
    • Autoria: Tradicionalmente atribuído a Lucas, um médico e companheiro de Paulo.
    • Data: Provavelmente escrito entre 60 e 80 d.C.
    • Local: Possivelmente escrito em Cesareia ou Antioquia.
    • Propósito: Lucas escreveu seu Evangelho e o livro de Atos para um homem chamado Teófilo, visando proporcionar um relato ordenado e preciso sobre a vida e obra de Jesus e os primórdios da igreja.
    • Temáticas Teológicas: Destaque para a universalidade da mensagem de Jesus, sua compaixão pelos marginalizados, a importância da oração e do Espírito Santo, e a inclusão dos gentios no plano de salvação.
  4. Evangelho de João:
    • Autoria: Tradicionalmente atribuído a João, um dos doze apóstolos de Jesus.
    • Data: Provavelmente escrito entre 80 e 100 d.C.
    • Local: Possivelmente escrito em Éfeso.
    • Propósito: João escreveu seu Evangelho para enfatizar a divindade de Jesus Cristo e promover a fé em seu nome como o Filho de Deus.
    • Temáticas Teológicas: Destaque para o Logos divino, os "Eu Sou" de Jesus, os milagres como sinais de sua identidade divina, a importância da fé e do amor, e a promessa do Espírito Santo.

Observando, mesmo que apressadamente o quadro acima, percebemos que cada um teve um propósito distinto ao elaborar sua narrativa. E tais propósitos definiram, inevitavelmente, o caminho que cada um utilizou ao apresentar seus registros, influenciando não só nos detalhes a que deram destaques nas histórias contadas, bem como no ritmo da narrativa, que se altera em cada um. Tudo diferente, e ao mesmo tempo tudo tão igual.

Não é muito difícil entender o porquê disso. Se separarmos 4 alunos de uma mesma classe e pedir que cada um individualmente relate o que o professor discursou sobre determinada matéria, certamente teremos 4 relatos diferentes e únicos. Cada um pontuará o que mais chamou sua atenção. Cada um destacará o que mais lhe impressionou em todo o conteúdo apresentado. E o impressionante é que todos estarão falando de um mesmo discurso e de um mesmo professor, o que, na outra ponta da linha, independentemente das diferentes narrativas, proporcionará ao leitor dos 4 diferentes relatos, concluir o que foi efetivamente discursado pelo professor, construindo um entendimento único e esclarecedor.

Por último, mas não menos importante, cada evangelista utilizou-se de um estilo diferente e propriamente adaptável ao seu propósito. Também isso não é difícil de observar, podendo até ser esboçado em quadro:

Mateus

·         Estilo: Mateus apresenta um estilo narrativo mais organizado e estruturado, frequentemente agrupando o material em blocos temáticos.

·         Semelhanças: Assim como Marcos, Mateus também prioriza os ensinamentos de Jesus e inclui uma grande quantidade de discursos.

·         Diferenças: Mateus, ao contrário de Marcos, enfatiza a conexão entre os ensinamentos de Jesus e o Antigo Testamento, muitas vezes citando as Escrituras judaicas para mostrar o cumprimento das profecias messiânicas em Jesus.

Marcos

·         Estilo: Marcos adota um estilo narrativo mais dinâmico e conciso, apresentando Jesus como um homem de ação.

·         Semelhanças: Assim como Lucas e João, Marcos dedica uma parte significativa do seu evangelho aos milagres e ensinamentos de Jesus.

·         Diferenças: Marcos tende a apresentar Jesus de forma mais humana, destacando suas emoções e reações às situações.

Lucas

·         Estilo: Lucas utiliza um estilo narrativo mais detalhado e inclui uma ênfase especial nas parábolas de Jesus e nas interações com pessoas marginalizadas.

·         Semelhanças: Lucas compartilha muitos eventos e ensinamentos semelhantes aos de Mateus e Marcos, mas apresenta-os com um foco distinto.

·         Diferenças: Lucas inclui uma ênfase mais forte na compaixão de Jesus pelos marginalizados, como os pobres, os doentes e os pecadores.

João

·         Estilo: João adota um estilo narrativo mais reflexivo e teológico, enfatizando a divindade de Jesus e os aspectos espirituais de seu ministério.

·         Semelhanças: João também inclui muitos milagres e ensinamentos de Jesus, mas os apresenta de maneira mais simbólica e profunda.

·         Diferenças: João se concentra mais na natureza espiritual do Reino de Deus e na relação pessoal que os crentes têm com Jesus como o Filho de Deus encarnado.

Estes diferentes estilos narrativos dos evangelistas contribuem para a riqueza e a variedade das perspectivas sobre a vida e os ensinamentos de Jesus apresentados nos Evangelhos.

Agora que sabemos detalhes do que é diferente e único em cada um dos evangelhos, daremos início ao conhecimento e aprofundamento no que é harmoniosamente relatado, tornando possível um entendimento único sobre tudo o que Jesus fez, disse e pretendeu em seu ministério. Seguiremos juntos passo a passo, e sem pressa. Até porque deixaremos os 4 falarem, um de cada vez, e juntos. Quem tem ouvidos para ouvir...

domingo, 28 de maio de 2023

Harmonia - Um jeito múltiplo de ser único

Por Jânsen Leiros Jr.

            Qualquer pessoa que já tenha assistido a uma orquestra tocar, muito provavelmente observou o impressionante sincronismo entre os diversos instrumentos que tocam simultaneamente, e que compõem em conjunto a harmonia que replica a pretensão sonora original do compositor; a sensação que queria provocar em sua audiência. É claro que nem todos gostam de música clássica, mas quer gostem, quer não, certamente entendem que o som resultante de diferentes acordes, tempos e movimentos, produz uma só melodia, cuja cadência varia pela condução do maestro.

Ou seja, estar diante de uma orquestra é estar diante de múltiplos instrumentos que, apesar das diferentes notas e sons emitidos, serão capazes de nos fazer ouvir uma única mensagem musical através da harmonia, que de todos faz um; propriedade inerente a um corpo[1].

Lembro-me de quando estive frente a frente com uma orquestra pela primeira vez; Projeto Aquarius[2], Quinta da Boa Vista, sentado no gramado diante do Museu Nacional. Naquele dia, a Orquestra Sinfônica Brasileira, com a regência do magnífico Isaac Karabtchevsky[3], executou "As Quatro Estações" de Vivaldi. Eu sentia o rufar dos tambores dentro do peito, e o som dos violinos quase me elevou do chão. E mais. O maestro parecia ter uma linha que ligava suas mãos a cada músico, de modo que seus movimentos controlavam cada um dos integrantes da orquestra. Um espetáculo. Eram os anos 1970, e aquela experiência transformou definitivamente meu gosto musical.

Algum tempo passou. Não muito. A janela da sala do apartamento onde morávamos no Cachambi, Zona Norte do Rio, dava para os fundos da Igreja Batista, de onde eu podia ouvir os cânticos da congregação. Eram hinos do Cantor Cristão, mas eu só fui saber disso mais tarde. De qualquer forma, aquele canto bem entoado e a empolgação com que soltavam a voz me replicaram as sensações da Quinta da Boa Vista. O interessante é que aquele som sempre esteve ali. Todo domingo. Pela manhã e à noite. Mas eu não o notei antes. Não sem a experiência da harmonia.

Minha avó sempre dizia que a curiosidade matou o gato. No meu caso, me fez viver bem mais e melhor. Aos treze anos, movido por um interesse inexplicável de ver aquela gente cantando, entrei na igreja e subi as escadas do recinto onde todos estavam. Fui impedido de entrar e pediram-me para aguardar na escada, pois o coral iria começar a cantar. E cantaram. "Maravilhosa Graça". Diversas pessoas, quatro vozes, uma só música, em uma harmonia que eu jamais havia ouvido em toda minha vida. Em todos meus longos treze anos de vida. Quando terminaram e fui autorizado a entrar, corri escada abaixo e fui para casa, com as sensações totalmente embaralhadas. Meses depois, eu já frequentava a Primeira Igreja Batista em Cachambi, e depois de batizado, ingressei no coral, tornando-me, talvez, o tenor mais jovem daquele conjunto. Minha alegria e satisfação eram flagrantes.

Na verdade, compreendi com a maturidade que o poder convergente da harmonia sempre me encantou. A capacidade de unificar em um único e precioso resultado o esforço e a dedicação de muitos sempre me fascinou, a ponto de definir minhas predileções nos mais diversos campos da vida. Esportes coletivos, a casa cheia de gente, trabalhos em equipe, tudo isso sempre me foi preferível pelo desafio e prazer da convergência.

Harmonizar pessoas é desafiador

 "10 Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para encher todas as coisas. 11 E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, 12 com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, 13 até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, 14 para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro. 15 Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, 16 de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor.

Efésios 4:11-16

,Se harmonizar sons, instrumentos e acordes já é uma tarefa difícil que demanda muito exercício e dedicação, requerer que indivíduos complexos e únicos se harmonizem em suas predileções, ideais e pretensões, é infinitamente mais difícil e desafiador. Há muita coisa em jogo quando falamos de gente. É muito comum que premências definam prioridades, que vaidades determinem escolhas, e sonhos e expectativas apontem para posicionamentos pelos quais se pode lutar até às últimas consequências. Em tais circunstâncias, é claro, nada mais comum do que ver a harmonia escorrer pelo ralo da inflexibilidade e do egoísmo. Não é exatamente isso que nos lança em um mundo de guerras, polarizações, intolerâncias e preconceitos?

Pode soar estranho, mas a pluralidade de denominações no meio cristão, em especial entre os evangélicos, não tem outra raiz senão a inabilidade humana de convergir naquilo que é comum e harmonizar-se com o divergente, quer aceitando-o, quer seguindo na experimentação da vida, até que haja compreensão comum ou amoroso convívio na direção do bem comum. Impossível? De modo algum. Fariseus se juntaram a herodianos para armarem ciladas para Jesus. Partidos políticos formam frentes e coalizões sempre que interesses comuns os incitam a uma aliança. Ora, se interesses nem sempre probos são capazes de unir divergentes e até inimigos, por que o propósito do Reino de Deus não o é? Respondam a si mesmos.

De certa forma, esse parece ser o intuito do apóstolo Paulo no texto de Efésios que lemos acima. Várias e diferentes partes, ajustadas e adequadamente unidas por um mesmo e único propósito. Afinal, tudo em nós enquanto corpo, como tudo o que fazemos, precisa convergir em Cristo e para Ele, que é tudo em todos. Ou seja, por mais que no exercício da vida cada um seja dotado para algo a que o outro não foi, todos trabalham com fins à harmonia, que produz uma mensagem única, coesa, inequívoca e absolutamente inspiradora, porque por Deus inspirada.

Ora, se a harmonia é o fim das diferentes partes de um conjunto, não seria diferente quanto aos quatro evangelhos que, juntos, formatam a mensagem única do Evangelho de Jesus Cristo. De certo que não. E muito embora algumas críticas superficiais e indolentes tentem encontrar divergências que desmereçam a mensagem, lançando dúvidas sobre os conteúdos aparentemente inconsistentes e divergentes, o que traremos para discussão e aprofundamento neste trabalho é a impressionante harmonia entre as mensagens transmitidas pelos quatro evangelistas, embora seus respectivos textos tenham sido escritos separadamente e em épocas não coincidentes.

Exatamente como se trabalha em ensaios, sejam em uma orquestra, sejam de um coral, será necessário paciência e atenção para passarmos as partituras de cada voz ou instrumento. Ouviremos com atenção cada um dos evangelistas, em sua narrativa particular. Avaliaremos condições e propósito, e entenderemos a cadência com que cada um deles pretendeu comunicar a mensagem aos ouvintes das boas novas. E esse já é, de cara, um dado relevante; ouvintes, muitos mais do que leitores. Sim, porque poucos eram os que, à época, sabiam ler. Mais um ingrediente para a busca da harmonia perfeita. Falaremos melhor sobre isso mais adiante.

Portanto, para evitarmos desafinar desde os primeiros compassos de nossa ópera, que tal buscarmos uma ambientação silente e de boa acústica, onde não haja qualquer preconceito gritando em nossas consciências, ou eco algum reverberando ideias que compramos sem análise, e que por vezes repetimos por mero costume? Vamos escutar o que cada um dos evangelistas tem a nos dizer, progredindo pelas marcações e etapas que a harmonia da mensagem única propõe. E então ouviremos uma só melodia composta pelo Espírito de Deus, tocada por estes seus quatro distintos instrumentos; Mateus, Marcos, Lucas e João.


[1] No contexto metafórico de unidade, o termo "corpo" refere-se à ideia de que todos os membros de um grupo ou comunidade estão interligados de maneira harmoniosa e colaborativa, assim como os diferentes membros de um corpo físico trabalham juntos para realizar diversas funções.

Essa metáfora ressalta a importância da cooperação, da complementaridade e da interdependência entre os membros de um grupo. Cada pessoa tem um papel único a desempenhar, mas todos trabalham juntos em direção a um objetivo comum. A unidade é alcançada quando todos os membros reconhecem e valorizam suas diferenças individuais, mas também reconhecem sua interconexão e a importância de trabalhar em conjunto para o benefício de todos.

[2] O "Projeto Aquarius" foi uma série de concertos de música clássica realizados ao ar livre no Brasil durante os anos 1970. Esses concertos, geralmente organizados em parques públicos e espaços abertos, tinham como objetivo levar a música clássica para um público mais amplo e diversificado, como forma de democratizar o acesso à cultura.

[3] Isaac Karabtchevsky é um maestro brasileiro nascido em São Paulo em 1934. Ele é reconhecido internacionalmente por sua carreira dedicada à regência de orquestras sinfônicas em todo o mundo. Karabtchevsky estudou no Conservatório de Moscou e no Conservatório de Paris, onde aprimorou suas habilidades como maestro.

No Brasil, ele é especialmente conhecido por sua longa colaboração com a Orquestra Sinfônica Brasileira, da qual foi diretor artístico e regente titular em diferentes períodos ao longo de sua carreira. Ele também trabalhou com outras orquestras importantes no Brasil e no exterior, como a Orquestra Petrobras Sinfônica, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP) e a Orquestra Sinfônica do Paraná.

Karabtchevsky é admirado por sua habilidade técnica, sua interpretação emocionalmente envolvente e seu compromisso com a divulgação da música clássica no Brasil e no mundo. Ele recebeu inúmeros prêmios e homenagens ao longo de sua carreira, consolidando seu lugar como uma figura proeminente no cenário musical brasileiro e internacional.