sexta-feira, 12 de abril de 2024

Explorando a harmonia dos Evangelhos

 

Por Jânsen Leiros Jr.

Nos últimos vinte séculos, os Evangelhos têm ecoado através do tempo, trazendo consigo a mensagem imortal de amor, redenção e esperança encontrada em Jesus Cristo. Como uma sinfonia celestial, esses quatro relatos — Mateus, Marcos, Lucas e João — entrelaçam-se em harmonia para formar uma narrativa única, cujas notas ressoam em cada página, em cada palavra, em cada verso.

Reafirmando o que anteriormente já dissemos, assim como uma orquestra afinada, os evangelistas contribuem com suas vozes individuais, cada um trazendo uma perspectiva única e valiosa para enriquecer o todo. Como regidos pela mão divina do Mestre, eles cooperam em perfeita sincronia, cada um adicionando sua melodia à grandiosa composição que é a história da vida e dos ensinamentos de Jesus Cristo.

Neste estudo que se pretende inspirador, embarcaremos em uma jornada fascinante para desvendar os mistérios da harmonia dos Evangelhos. Nosso objetivo é mergulhar profundamente nas páginas sagradas e descobrir como as narrativas distintas se unem para formar uma mensagem única e transformadora sobre o Filho de Deus.

A Notável Harmonia dos Evangelhos

A primeira nota de destaque dessa sinfonia é a notável harmonia presente nos Evangelhos, apesar das diferenças evidentes entre eles em estilo, ênfase e conteúdo. Esses relatos se complementam e se entrelaçam de maneira surpreendente. Enquanto Mateus enfatiza a realeza de Jesus como o Messias prometido, Marcos retrata sua autoridade e poder divinos. Lucas, por sua vez, apresenta o Salvador como o Filho do Homem, compassivo e misericordioso, enquanto João nos conduz às profundezas de sua divindade e amor redentor. É como se cada evangelista, ao escrever sob a inspiração do Espírito Santo, adicionasse sua própria melodia à grandiosa composição dos Evangelhos.

         E já que iniciamos apontando as individualidades intrínsecas de cada um dos evangelhos, é importante conhecermos os destaques históricos que os tornam únicos e completos em si mesmos, como autoria, datas prováveis de composição e de onde foram escritos, as perspectivas próprias que cada um apresenta sobre a vida e o ministério de Jesus e, por fim, a ênfase teológica exercida por cada evangelista, flagrantemente percebidas em seus diferentes estilos narrativos.

Vamos a eles, não sem antes ressaltar que, como não é nossa pretensão aqui, não nos aprofundaremos em questões como datação, autoria e local de registro, utilizando as informações geralmente aceitas pela maioria dos comentaristas bíblicos. Afinal, para a observação da harmonia entre os quatro evangelhos, tais informações, ainda que relevantes em estudos histórico-críticos, não interferirão em nossa compreensão.

Apresentação rápida dos quatro Evangelhos

  1. Evangelho de Mateus:
    • Autoria: Tradicionalmente atribuído a Mateus, um dos doze apóstolos de Jesus.
    • Data: Provavelmente escrito entre 60 e 70 d.C.
    • Local: Possivelmente escrito na Síria ou Antioquia.
    • Propósito: Mateus escreveu seu Evangelho principalmente para uma audiência judaica, buscando demonstrar que Jesus era o cumprimento das profecias messiânicas do Antigo Testamento.
    • Temáticas Teológicas: Destaque para a ênfase na genealogia de Jesus, a autoridade e soberania do Messias, o Reino de Deus, a ética do Reino e a missão da igreja.
  2. Evangelho de Marcos:
    • Autoria: Tradicionalmente atribuído a Marcos, discípulo de Pedro e intérprete de Paulo.
    • Data: Provavelmente escrito entre 50 e 70 d.C.
    • Local: Possivelmente escrito em Roma.
    • Propósito: Marcos escreveu seu Evangelho de forma concisa e dinâmica, enfatizando a natureza servil de Jesus e sua missão de sofrimento e redenção.
    • Temáticas Teológicas: Destaque para a autoridade e poder de Jesus sobre as forças espirituais, sua compaixão pelos marginalizados e sua morte sacrificial como o Servo Sofredor.
  3. Evangelho de Lucas:
    • Autoria: Tradicionalmente atribuído a Lucas, um médico e companheiro de Paulo.
    • Data: Provavelmente escrito entre 60 e 80 d.C.
    • Local: Possivelmente escrito em Cesareia ou Antioquia.
    • Propósito: Lucas escreveu seu Evangelho e o livro de Atos para um homem chamado Teófilo, visando proporcionar um relato ordenado e preciso sobre a vida e obra de Jesus e os primórdios da igreja.
    • Temáticas Teológicas: Destaque para a universalidade da mensagem de Jesus, sua compaixão pelos marginalizados, a importância da oração e do Espírito Santo, e a inclusão dos gentios no plano de salvação.
  4. Evangelho de João:
    • Autoria: Tradicionalmente atribuído a João, um dos doze apóstolos de Jesus.
    • Data: Provavelmente escrito entre 80 e 100 d.C.
    • Local: Possivelmente escrito em Éfeso.
    • Propósito: João escreveu seu Evangelho para enfatizar a divindade de Jesus Cristo e promover a fé em seu nome como o Filho de Deus.
    • Temáticas Teológicas: Destaque para o Logos divino, os "Eu Sou" de Jesus, os milagres como sinais de sua identidade divina, a importância da fé e do amor, e a promessa do Espírito Santo.

Observando, mesmo que apressadamente o quadro acima, percebemos que cada um teve um propósito distinto ao elaborar sua narrativa. E tais propósitos definiram, inevitavelmente, o caminho que cada um utilizou ao apresentar seus registros, influenciando não só nos detalhes a que deram destaques nas histórias contadas, bem como no ritmo da narrativa, que se altera em cada um. Tudo diferente, e ao mesmo tempo tudo tão igual.

Não é muito difícil entender o porquê disso. Se separarmos 4 alunos de uma mesma classe e pedir que cada um individualmente relate o que o professor discursou sobre determinada matéria, certamente teremos 4 relatos diferentes e únicos. Cada um pontuará o que mais chamou sua atenção. Cada um destacará o que mais lhe impressionou em todo o conteúdo apresentado. E o impressionante é que todos estarão falando de um mesmo discurso e de um mesmo professor, o que, na outra ponta da linha, independentemente das diferentes narrativas, proporcionará ao leitor dos 4 diferentes relatos, concluir o que foi efetivamente discursado pelo professor, construindo um entendimento único e esclarecedor.

Por último, mas não menos importante, cada evangelista utilizou-se de um estilo diferente e propriamente adaptável ao seu propósito. Também isso não é difícil de observar, podendo até ser esboçado em quadro:

Mateus

·         Estilo: Mateus apresenta um estilo narrativo mais organizado e estruturado, frequentemente agrupando o material em blocos temáticos.

·         Semelhanças: Assim como Marcos, Mateus também prioriza os ensinamentos de Jesus e inclui uma grande quantidade de discursos.

·         Diferenças: Mateus, ao contrário de Marcos, enfatiza a conexão entre os ensinamentos de Jesus e o Antigo Testamento, muitas vezes citando as Escrituras judaicas para mostrar o cumprimento das profecias messiânicas em Jesus.

Marcos

·         Estilo: Marcos adota um estilo narrativo mais dinâmico e conciso, apresentando Jesus como um homem de ação.

·         Semelhanças: Assim como Lucas e João, Marcos dedica uma parte significativa do seu evangelho aos milagres e ensinamentos de Jesus.

·         Diferenças: Marcos tende a apresentar Jesus de forma mais humana, destacando suas emoções e reações às situações.

Lucas

·         Estilo: Lucas utiliza um estilo narrativo mais detalhado e inclui uma ênfase especial nas parábolas de Jesus e nas interações com pessoas marginalizadas.

·         Semelhanças: Lucas compartilha muitos eventos e ensinamentos semelhantes aos de Mateus e Marcos, mas apresenta-os com um foco distinto.

·         Diferenças: Lucas inclui uma ênfase mais forte na compaixão de Jesus pelos marginalizados, como os pobres, os doentes e os pecadores.

João

·         Estilo: João adota um estilo narrativo mais reflexivo e teológico, enfatizando a divindade de Jesus e os aspectos espirituais de seu ministério.

·         Semelhanças: João também inclui muitos milagres e ensinamentos de Jesus, mas os apresenta de maneira mais simbólica e profunda.

·         Diferenças: João se concentra mais na natureza espiritual do Reino de Deus e na relação pessoal que os crentes têm com Jesus como o Filho de Deus encarnado.

Estes diferentes estilos narrativos dos evangelistas contribuem para a riqueza e a variedade das perspectivas sobre a vida e os ensinamentos de Jesus apresentados nos Evangelhos.

Agora que sabemos detalhes do que é diferente e único em cada um dos evangelhos, daremos início ao conhecimento e aprofundamento no que é harmoniosamente relatado, tornando possível um entendimento único sobre tudo o que Jesus fez, disse e pretendeu em seu ministério. Seguiremos juntos passo a passo, e sem pressa. Até porque deixaremos os 4 falarem, um de cada vez, e juntos. Quem tem ouvidos para ouvir...